quarta-feira, 9 de maio de 2018

TRABALHANDO COM O GÊNERO TEXTUAL RESENHA, NO ENSINO MÉDIO


“VIDAS SECAS” – Graciliano Ramos
PRISCILA CARVALHO PÓVOA CRUZ COSTA
5º PERÍODO/LETRAS
            A obra em questão é Vidas Secas de Graciliano Ramos, autor nordestino que faz parte da geração de 30, ou modernismo da segunda fase, período no qual os temas nacionalistas e regionalistas se fortalecem. É composta por 13 capítulos nos quais se retrata a realidade miserável e conturbada de uma família mediante a devastadora seca no nordeste brasileiro.
            Fabiano, Sinhá Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia são as figuras principais do enredo digamos que desmontável, por não haver uma linearidade que obrigue o leitor a se reter a uma determinada ordem, exceto o capítulo “Mudança”, que deve ser lido primeiramente, e “Fuga”, que também deve ser lido segundo a disposição original da obra.
            No decorrer de todo o enredo, nota-se uma descrição bastante rude e áspera tanto do cenário quanto das personagens fazendo jus ao título dado à obra.
            Em “Mudança”, primeiro capítulo, a família de retirantes caminha exaustivamente por um cenário devastado até chegar em uma fazenda abandonada a qual acende- lhes a esperança de um futuro melhor. A esperança instaura-se ainda mais com a chuva que chega, mas logo se dissipa por conta do dono da fazenda que retorna fazendo de Fabiano um vaqueiro ordinário.
            A figura dos retirantes é tema de muitas outras obras que tentam de alguma forma relatar o sofrimento pelo qual essas pessoas passaram. A seca, principal vilã, desumaniza, animaliza e faz com que o ser humano aja de forma   impensada e impulsiva, e foi exatamente esse contexto que fez com que Fabiano aceitasse a intensa exploração por parte do patrão, as desonestidades e os insultos que ele lhe dirigia.
            Semelhante ao patrão de Fabiano tem-se também a figura do soldado amarelo que explora da ignorância do pobre homem, o agride, o acusa e o humilha sem razão alguma. Seu Inácio, dono da bodega, é outro que se apresenta no mesmo campo da desonestidade que o patrão e o soldado amarelo, por adulterar os produtos vendidos e cobrar mais caro que devia.
            É revoltante saber que existem pessoas que são realmente assim, exploram por puro prazer, aproveitam da necessidade alheia e abusam da sua condição superior. Graciliano Ramos retrata isso em toda a obra deixando aí sua crítica e indignação aos que realizam tais práticas. Situações assim acontecem por todos os lados, não só no cenário da seca. 
            Cada um dos 5 principais personagens tem um capítulo específico, não há muitos detalhes sobre eles por conta, exatamente, de se tratar de “vidas secas”.
            Os membros da família são pessoas simples, de aparência rude, ignorantes e de poucas palavras, tanto que constantemente as situações de comunicação entre eles são por meio de “sons guturais” ou gestos. Seu pouco contato com outros humanos, o fato de vestirem poucas roupas e não saberem sequer conversar direito, os aproxima muito da figura de um animal.
            Fabiano sempre trapaceado, por causa da sua ignorância e baixa posição social, não tinha reação nem atitude diante das situações, mas mesmo assim pensava na educação dos filhos, no futuro que os esperava. Sinhá Vitória não era tão ignorante quanto o marido, sabia até fazer contas, mas o que mais se destaca nela é seu anseio por uma cama digna. É esperançosa, inconformada com a situação vivenciada, trabalhadora e de maior iniciativa que o marido.
            O filho mais novo anseia ser como o pai, o mais velho é um menino mais curioso e demonstra interesse por conhecer coisas que a convivência com a família não permite. Ambos possuem uma relação amigável com Baleia, a cachorra da família que demonstra ser mais compreensiva e digna que qualquer outro ser humano do livro. Baleia sempre esteve presente com a família desde os desníveis da seca até àquele momento de estabilidade. O sacrifício da cachorra é tratado com tanta melancolia e rancor que deixa bem claro o quão importante ela era, tanto que Fabiano jamais se esqueceria da atitude drástica que ele fora obrigado a tomar: sacrificar a cachorra por conta de uma doença.
            Em meio a tantas dificuldades, a família teve momentos de alegria e sossego como é relatado em “Inverno”, quando as chuvas prevaleciam e fazia com que tudo se revigorasse e dava a esperança de que a seca não viria tão cedo. Mas, não abandonando a linhagem pessimista que os acompanhou até o momento, ainda assim houve medo, medo das enchentes.
            Em “O soldado amarelo” a dignidade do homem simples é mostrada quando Fabiano teve a chance de matar e se vingar do ser que o humilhara e o colocara na cadeia sem motivo justificável, mas não o fez. Pelo contrário, Fabiano tirou o chapéu numa reverência e ainda ensinou o caminho ao amarelo que estava perdido no mato. Atitude nobre desse personagem que, até então, não tinha nada a se destacar.
             O tempo se passou e de repente se viu “o mundo coberto de penas”, eram as aves carniceiras que tiravam a paz dos sertanejos. Aquela cena trouxe lembranças horríveis à família de Fabiano e, após quase tudo acabado e seco novamente, optaram pela “Fuga” iniciando, mais uma vez, o ciclo que introduz a obra em busca de esperança.
            Graciliano Ramos encerra essa obra da mesma forma como a iniciou talvez para mostrar que esse fenômeno (seca) é constante e imprevisível no nordeste de nosso país. Ou, levando para um lado mais ideológico e social da obra, para mostrar que a condição de explorado e conformado do ser humano também sempre continua. Deve sempre haver em nós a esperança de tempos melhores, assim como houve em Sinhá Vitória. Deve sempre haver em nós, atitudes de humanidade, como houve em Fabiano mediante o soldado amarelo perdido na mata. Deve sempre haver em nós o desejo de saber e conhecer mais, como houve no menino mais velho. Deve sempre haver em nós o sentimento amigo que houve em baleia. Devemos também ser como o menino mais novo, seguir os exemplos que achamos necessários.
            Em suma, a obra de Graciliano Ramos além de retratar uma realidade brasileira, traz uma infinidade de ensinamentos. É uma obra de leitura não tão fácil, pois, por se tratar de uma região específica, existem palavras e expressões que fogem do contexto de quem nunca esteve inserido ou conviveu com o sertão nordestino, mas não é nada que desqualifica a obra nem tira os seus méritos.
            Essa brilhante obra interessa a todos os brasileiros que se preocupam com os problemas sociais que afetam seu país e que procuram conhecer ou estudar a cultura ou a história de determinada região.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 40. ed. São Paulo: Record.

Para começar a conversa...
O gênero textual RESENHA é bastante presente no meio estudantil, sobretudo o acadêmico. Consiste, basicamente, em tecer comentários críticos ou avaliação de uma obra que deve conter o assunto e como ele é abordado e tratado, a organização, a ilustração, se houver, etc. Uma resenha deve ser feita levando-se em consideração os conhecimentos prévios sobre o assunto. Nesse sentido, sua produção implica leitura, releitura, interpretação, resumo e posicionamento.
1    1- A partir da resenha apresentada, busque as informações que auxiliem a completar o quadro abaixo.
Livro resenhado

Autor do livro

Tema do livro

Gênero da obra

Autor da Resenha

Objetivo da resenha


Público alvo da resenha

É necessário, também, saber que as resenhas se caracterizam por apresentarem pelo menos dois movimentos básicos: a descrição ou resumo da obra e os comentários do autor da RESENHA.
2- Agora, vá observando atentamente as partes da resenha e faça o que se pede:
A) O que é apresentado no primeiro parágrafo?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
B) Transcreva do texto comentários, do autor da resenha, sobre a obra resenhada e especifique em quais parágrafos ocorrem.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
 C) O que podemos afirmar sobre os dois últimos parágrafos da RESENHA?
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3- De acordo com o que viu-se até o momento, preencha as lacunas do texto usando as palavras/expressões abaixo, adequadamente:
Comentários – os objetivos – a conclusão – a apreciação – informações sobre o contexto e o tema do livro.

No início de uma resenha, encontramos ________________________. Em seguida, ____________________________ da obra resenhada. Antes de apontar os comentários do resenhista sobre a obra, é importante apresentar a descrição estrutural da obra resenhada. Isso pode ser feito por capítulos ou agrupamento de capítulos. Depois, encontramos __________________ do resenhista sobre a obra. Aliás, é importante que haja tanto ____________________ positivos quanto negativos. Finalmente, _____________________, em que o autor deverá explicitar/reafirmar sua posição sobre a obra resenhada

MACHADO, Ana Rachel ABREU TARDELLI, Lília Santos LOUSADA, Eliane Gouvea. Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 3. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.

RESENHA: O Cortiço, Aluísio Azevedo


   A obra resenhada é O Cortiço do autor maranhense Aluísio Azevedo, uma versão adaptada da editora LPM. A obra naturalista foi escrita num contexto histórico muito importante para a sociedade brasileira, pois sucedeu o momento da abolição da escravatura e também da proclamação da república. O livro é dividido em 16 capítulos, nos quais descreve a vida de moradores de uma estalagem carioca, também chamada de cortiço, no século XIX.
   João Romão, um dos personagens principais dessa história, era um português que trabalhava muito buscando o enriquecimento. Possuía uma venda, deixada por seu patrão que voltara a Portugal, na qual trabalhava incessantemente em busca do seu sonho de enriquecer. Acabou unindo-se a uma escrava, falsamente, livre, chamada Bertoleza. Sempre desejando enriquecer, João se aproveitou de sua “companheira” para fazer trabalhos sujos, como por exemplo, furtar materiais de construção da vizinhança durante a noite, para assim construir casinhas em seu terreno, afim de serem alugadas. Também conseguiu comprar, juntando suas economias conseguidas através de alguns meios ilícitos, uma pedreira que ficava atrás de seu terreno.
   Na mesma época em que João conquistou tudo isso, mudou-se para um sobrado vizinho, o Miranda, também português, que dizia mudar-se para lá afim de dar um lugar melhor para o crescimento de sua filha, Zulmira. Porém, como se sabe, o real motivo de sua mudança era afastar sua esposa, Dona Estela, de seus amantes. O livro então começa a narrar a disputa de João Romão com Miranda, que se irritou ao ver o vizinho construindo o seu cortiço, onde moravam lavadeiras, trabalhadores da pedreira, dentre outros.
   Cada vez mais o cortiço de João Romão crescia, causando inveja em Miranda, que vendo sua impossibilidade de superar o vizinho financeiramente, decidiu buscar outra forma para se sentir superior: comprar o título de barão.
   Surge na história Henrique, um garoto de 15 anos que passa a morar com Miranda e também o velho Botelho, que fora funcionário de Miranda mas no momento não trabalhava e nem tinha família. Miranda e Estela viviam brigando, e Botelho era o “conselheiro” dos dois. Para complicar a situação, em um certo dia, Estela e Henrique estão se agarrando no jardim e surge Botelho, que vê o casal mas, por sorte, não contou nada a ninguém e orientou que tivessem mais cuidado. Outro fato estranho acontece: quando o velho vai conversar com Henrique, começa a acariciá-lo e a elogiá-lo, dando a entender que era um pederasta.
   O livro narra a convivência entre os moradores do cortiço, e no capítulo 4, começa a surgir a descrição de uma personagem importante: Rita Baiana, uma mulher muito bonita e sensual, que namorava Firmo, um capoeira. Ainda no mesmo capítulo, é narrada a mudança de Jerônimo, sua esposa Piedade e sua filha Senhorinha, ambos portugueses, ao cortiço de João Romão. A partir daí começam a surgir as brigas, desentendimentos e a descrição de uma realidade um tanto quanto triste para alguns dos moradores desse espaço.
  Jerônimo, homem honesto, trabalhador e dedicado à família, se apaixona pela brasileira Rita Baiana. Alguns acontecimentos deixam a indicar essa paixão e, consequentemente, Piedade entende que havia “perdido” seu esposo, o que a entristece e irrita muito.
  Havia também no cortiço a Dona Isabel, lavadeira, uma senhora respeitável, que tinha uma filha, a Pombinha, uma das poucas moradoras do cortiço que sabe ler e escrever. No cortiço moravam também Alexandre, soldado da polícia, junto com sua esposa Augusta, que era lavadeira, e sua filha Juju, que tinha como madrinha a prostituta Leónie. Dona Isabel e Pombinha se tornaram amigas de Leónie, mas um fato triste acontece: em uma certa visita à casa da prostituta, ela acaba abusando da doce Pombinha. A menina passou mal no dia seguinte, sentindo dores no útero e com febre, tendo sonhos estranhos e, ao acordar percebeu que tinha menstruado. Pombinha era noiva de João da Costa, mas sua mãe só permitia que se casasse a partir do momento em que virasse “mulher”, apesar de já possuir 18 anos. A notícia sobre a menstruação de Pombinha alegrou a todos, que muito queriam vê-la feliz.
   Jerônimo, apaixonado por Rita, se envolve com Firmo e os dois acabam brigando pela mulata. Depois de um certo tempo, entre idas e vindas, Jerônimo, junto com dois amigos, acaba matando Firmo. Os dois decidem então fugir para ficarem juntos e Jerônimo separa-se de Piedade, deixando-a sozinha com Senhorinha. Ele prometeu continuar pagando a escola da filha, mas se envolve em dívidas e nem isso ele pode fazer à menina. Passam a viver uma vida turbulenta e Piedade começa a beber, vivendo desestabilizadamente.
   Com o passar do tempo, a convivência entre João Romão e o vizinho Miranda melhora. João Romão aproveitou-se de toda força física de Bertoleza para enriquecer e, no desfecho da história, algo surpreendente acontece: aflito para se ver livre da escrava, e para poder se casar com a filha de Miranda, o dono do cortiço começa a pensar em uma forma de se livrar de sua “companheira”. Como dito no início, Bertoleza não era verdadeiramente livre, junto com o velho Botelho, João Romão decide denunciá-la aos seus “donos”, visto que ela tinha uma falsa carta de alforria, projetada por João Romão. Quando estes, junto à polícia, vem buscá-la, como era de costume, a escrava estava trabalhando e, antes que encostassem um dedo nela, enfiou a faca em si mesma, pondo fim à história de O cortiço.
   O cortiço é uma obra naturalista. Nele, observamos aspectos desse período literário, como a descrição detalhada dos personagens, uso de temas sociais polêmicos  (adultérios, crimes, pederastia), como também o foco na análise dos comportamentos humanos.
   O autor da obra, Aluísio Gonçalves Belo de Azevedo, nascido no Maranhão, em 1857, foi desenhista, jornalista, romancista, dramaturgo e diplomata. Seus romances mais famosos são O cortiço, O mulato e Casa de pensão, chamados de naturalistas em razão de apresentarem uma descrição minuciosa e realista dos diferentes tipos humanos e de suas relações com o meio onde vivem. Como se pode ver em O cortiço, a narração entra em detalhes íntimos da vida dos personagens.
   Essa obra denuncia a precariedade das moradias dos subúrbios do final do século 19, como esse de João Romão, localizado no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Foi escrita num período posterior à abolição da escravatura no Brasil, mas ainda assim vemos uma negra servindo como escrava para um português. Percebemos então que, mesmo com o “fim da escravidão” no Brasil, ainda podemos ver as marcas desse sistema, como acontece no caso de Bertoleza.
   A obra é excelente para aqueles que gostam de ler sobre temas polêmicos, que refletem e denunciam um momento histórico e também para os que gostam de romances mais realistas e com menos idealização da perfeição.

- Sara Heloisa Silveira Moraes - Estudante, cursando o 3º ano A do Ensino Médio na Escola Estadual Professora Ilma de Lana Emerique Caldeira
- Professora Priscila Carvalho

terça-feira, 1 de maio de 2018

CORDEL DO ALIENISTA

Depois de ir pra Europa
E conseguir tudo o que podia conseguir,
Doutor Simão Bacamarte
Regressou à Itaguaí.

Se achando bom demais
Quis perpetuar sua raça,
não por amor, mas por ciência,
Procurou alguém na praça.

Encontrou Dona Evarista,
que beleza não possuía,
mas por ele foi escolhida
para exercer tal Heresia.

Mas o esquema deu errado,
Quem podia adivinhar?
Que aquela feia jovem
não podia um filho gerar.

A medicina chegou no limite,
e o doutor seguiu em frente,
nem os membros, nem os órgãos,
resolveu estudar a mente.

Construiu um manicômio,
com algum que economizou.
Lá abrigou os loucos
e de Casa Verde o batizou.

O doutor gostou tanto,
e ficou tão empolgado,
que foi só questão de tempo,
pro lugar ficar lotado.

No começo, realmente,
eram loucos os internos,
Mas passou a internar
alguns por motivos ternos.

O primeiro a ser internado,
e a perder sua esperança,
foi o Costa, por emprestar
sua grande e gorda herança.

Meu amigo, daí para frente
ninguém pôde segurar,
Qualquer um que estranhava
Bacamarte ia internar.

As internações aumentavam,
a cada dia que passava,
e estava tão estranho
que a cidade se alarmava.

D. Evarista estava longe
da sua estranha paixão
voltou de viagem do Rio,
era uma suposta solução.

Evarista, supostamente,
com a loucura ia cessar,
Bacamarte nem quis saber,
continuou a internar.

Porfírio, interessado
na política da cidade,
não pensou nem duas vezes,
foi tentar tirar vantagem.

Aquele barbeiro é esperto,
convocou a população
e, em frente a Casa Verde,
protestou a situação.

Com a "Revolta dos Canjicas",
Porfírio tinha esperança,
mas, Bacamarte, inteligente,
nem sequer deu confiança.

Essa tal de Casa Verde,
em Itaguaí fez um alvoroço,
E a Revolta ficou dura
feito carne de pescoço.

Porfírio tinha outros interesses
além de muita ambição.
Viu que com o Bacamarte
chegaria lá, e então...

Se juntou com o doutor
intensificando a atividade.
Se dependesse dos dois,
internariam toda a cidade.

Com essa dupla formada,
com total supremacia,
com todo poder nas mãos,
Onde isso pararia?

Com o passar dos dias,
Porfírio, que era um safado,
abandonou os "Canjicas",
e internou seus aliados.

Foi tão grande o alvoroço,
de esquina em esquina,
foi até cair no ouvido
do barbeiro João Pina.

Achando aquilo estranho,
João ficou contrariado,
armou grande confusão,
ali o circo estava armado.

João Pina foi incisivo,
calculou a sua ação.
E em um golpe bem aplicado,
Porfírio caiu por chão.

Mas ficou foi enganado,
quem chegou a enganar,
que com a mudança de governo,
a loucura ia acabar.

Acredita se eu te contar,
como foi que sucedeu?
Com o novo governo
ela se fortaleceu.

Até D. Evarista,
que de louca não tinha nada,
por ansiedade e indecisão,
por seu marido foi internada.

A cada dia, mais o número
de internos aumentava,
E a sede de Bacamarte
de forma alguma saciava.

Enfim, chegou o dia
da tão temida hora
de ter mais loucos na Casa Verde
que gente por Itaguaí a fora.

Bacamarte, questionador,
pôs a mão na consciência,
percebeu que estava falho
e sem razão na sua ciência.

Após a constatação
de que sua teoria estava errada
resolveu abrir o portão,
e liberar a "malucada".

Se nem todos eram loucos
e nem seguiam um padrão,
louco era quem mantinha
regularidade em sua ação.

Mas meu amigo, ninguém podia,
com a cabeça do Doutor,
quem tentou o impedir,
automaticamente se internou.

Exemplo claro disso tudo,
foi o vereador Galvão
fez a Lei para se proteger
e terminou na internação.

Sendo assim, eu repito
que isso não é novidade,
Bacamarte continuou,
a internar toda a cidade.

Mas dessa vez, na teoria,
diferenças foram apresentadas,
mesmo com desvio de caráter,
algumas eram liberadas.

Mas Bacamarte não conseguiu
sua teoria firmar,
mesmo com tantos internos,
nada podia provar.

Sendo assim se declarou,
estava errado novamente.
Liberou todos os internos,
e tentou seguir em frente.

Percebeu que cada um
possuía sua personalidade,
que ninguém, mesmo parecido,
era igual de verdade.

Cada um tem seu capricho
cada um tem seu defeito
e, em sua teoria,
apenas ele era perfeito.

O Alienista aí então,
resolveu olhar para si,
e isso foi o bastante
pro coitado descobrir.

Depois de muita análise,
de várias horas de estudo,
o pobre descobriu
que ele era o maluco.

Depois de desperdiçar
grande parte da sua vida,
analisou e concluiu
e tomou a atitude sofrida

Pra ele foi dolorosa
e triste a decisão:
Trancou-se louco pelo resto da vida,
em sua própria criação.

Por João Miguel, 3º B