terça-feira, 1 de maio de 2018

CORDEL DO ALIENISTA

Depois de ir pra Europa
E conseguir tudo o que podia conseguir,
Doutor Simão Bacamarte
Regressou à Itaguaí.

Se achando bom demais
Quis perpetuar sua raça,
não por amor, mas por ciência,
Procurou alguém na praça.

Encontrou Dona Evarista,
que beleza não possuía,
mas por ele foi escolhida
para exercer tal Heresia.

Mas o esquema deu errado,
Quem podia adivinhar?
Que aquela feia jovem
não podia um filho gerar.

A medicina chegou no limite,
e o doutor seguiu em frente,
nem os membros, nem os órgãos,
resolveu estudar a mente.

Construiu um manicômio,
com algum que economizou.
Lá abrigou os loucos
e de Casa Verde o batizou.

O doutor gostou tanto,
e ficou tão empolgado,
que foi só questão de tempo,
pro lugar ficar lotado.

No começo, realmente,
eram loucos os internos,
Mas passou a internar
alguns por motivos ternos.

O primeiro a ser internado,
e a perder sua esperança,
foi o Costa, por emprestar
sua grande e gorda herança.

Meu amigo, daí para frente
ninguém pôde segurar,
Qualquer um que estranhava
Bacamarte ia internar.

As internações aumentavam,
a cada dia que passava,
e estava tão estranho
que a cidade se alarmava.

D. Evarista estava longe
da sua estranha paixão
voltou de viagem do Rio,
era uma suposta solução.

Evarista, supostamente,
com a loucura ia cessar,
Bacamarte nem quis saber,
continuou a internar.

Porfírio, interessado
na política da cidade,
não pensou nem duas vezes,
foi tentar tirar vantagem.

Aquele barbeiro é esperto,
convocou a população
e, em frente a Casa Verde,
protestou a situação.

Com a "Revolta dos Canjicas",
Porfírio tinha esperança,
mas, Bacamarte, inteligente,
nem sequer deu confiança.

Essa tal de Casa Verde,
em Itaguaí fez um alvoroço,
E a Revolta ficou dura
feito carne de pescoço.

Porfírio tinha outros interesses
além de muita ambição.
Viu que com o Bacamarte
chegaria lá, e então...

Se juntou com o doutor
intensificando a atividade.
Se dependesse dos dois,
internariam toda a cidade.

Com essa dupla formada,
com total supremacia,
com todo poder nas mãos,
Onde isso pararia?

Com o passar dos dias,
Porfírio, que era um safado,
abandonou os "Canjicas",
e internou seus aliados.

Foi tão grande o alvoroço,
de esquina em esquina,
foi até cair no ouvido
do barbeiro João Pina.

Achando aquilo estranho,
João ficou contrariado,
armou grande confusão,
ali o circo estava armado.

João Pina foi incisivo,
calculou a sua ação.
E em um golpe bem aplicado,
Porfírio caiu por chão.

Mas ficou foi enganado,
quem chegou a enganar,
que com a mudança de governo,
a loucura ia acabar.

Acredita se eu te contar,
como foi que sucedeu?
Com o novo governo
ela se fortaleceu.

Até D. Evarista,
que de louca não tinha nada,
por ansiedade e indecisão,
por seu marido foi internada.

A cada dia, mais o número
de internos aumentava,
E a sede de Bacamarte
de forma alguma saciava.

Enfim, chegou o dia
da tão temida hora
de ter mais loucos na Casa Verde
que gente por Itaguaí a fora.

Bacamarte, questionador,
pôs a mão na consciência,
percebeu que estava falho
e sem razão na sua ciência.

Após a constatação
de que sua teoria estava errada
resolveu abrir o portão,
e liberar a "malucada".

Se nem todos eram loucos
e nem seguiam um padrão,
louco era quem mantinha
regularidade em sua ação.

Mas meu amigo, ninguém podia,
com a cabeça do Doutor,
quem tentou o impedir,
automaticamente se internou.

Exemplo claro disso tudo,
foi o vereador Galvão
fez a Lei para se proteger
e terminou na internação.

Sendo assim, eu repito
que isso não é novidade,
Bacamarte continuou,
a internar toda a cidade.

Mas dessa vez, na teoria,
diferenças foram apresentadas,
mesmo com desvio de caráter,
algumas eram liberadas.

Mas Bacamarte não conseguiu
sua teoria firmar,
mesmo com tantos internos,
nada podia provar.

Sendo assim se declarou,
estava errado novamente.
Liberou todos os internos,
e tentou seguir em frente.

Percebeu que cada um
possuía sua personalidade,
que ninguém, mesmo parecido,
era igual de verdade.

Cada um tem seu capricho
cada um tem seu defeito
e, em sua teoria,
apenas ele era perfeito.

O Alienista aí então,
resolveu olhar para si,
e isso foi o bastante
pro coitado descobrir.

Depois de muita análise,
de várias horas de estudo,
o pobre descobriu
que ele era o maluco.

Depois de desperdiçar
grande parte da sua vida,
analisou e concluiu
e tomou a atitude sofrida

Pra ele foi dolorosa
e triste a decisão:
Trancou-se louco pelo resto da vida,
em sua própria criação.

Por João Miguel, 3º B


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