A obra resenhada é O Cortiço do autor
maranhense Aluísio Azevedo, uma versão adaptada da editora LPM. A obra
naturalista foi escrita num contexto histórico muito importante para a
sociedade brasileira, pois sucedeu o momento da abolição da escravatura e
também da proclamação da república. O livro é dividido em 16 capítulos, nos
quais descreve a vida de moradores de uma estalagem carioca, também chamada de
cortiço, no século XIX.
João Romão, um dos personagens principais
dessa história, era um português que trabalhava muito buscando o
enriquecimento. Possuía uma venda, deixada por seu patrão que voltara a
Portugal, na qual trabalhava incessantemente em busca do seu sonho de
enriquecer. Acabou unindo-se a uma escrava, falsamente, livre, chamada Bertoleza.
Sempre desejando enriquecer, João se aproveitou de sua “companheira” para fazer
trabalhos sujos, como por exemplo, furtar materiais de construção da vizinhança
durante a noite, para assim construir casinhas em seu terreno, afim de serem
alugadas. Também conseguiu comprar, juntando suas economias conseguidas através
de alguns meios ilícitos, uma pedreira que ficava atrás de seu terreno.
Na mesma época em que João conquistou tudo
isso, mudou-se para um sobrado vizinho, o Miranda, também português, que dizia
mudar-se para lá afim de dar um lugar melhor para o crescimento de sua filha,
Zulmira. Porém, como se sabe, o real motivo de sua mudança era afastar sua
esposa, Dona Estela, de seus amantes. O livro então começa a narrar a disputa
de João Romão com Miranda, que se irritou ao ver o vizinho construindo o seu
cortiço, onde moravam lavadeiras, trabalhadores da pedreira, dentre outros.
Cada vez mais o cortiço de João Romão
crescia, causando inveja em Miranda, que vendo sua impossibilidade de superar o
vizinho financeiramente, decidiu buscar outra forma para se sentir superior:
comprar o título de barão.
Surge na história Henrique, um garoto de 15
anos que passa a morar com Miranda e também o velho Botelho, que fora
funcionário de Miranda mas no momento não trabalhava e nem tinha família.
Miranda e Estela viviam brigando, e Botelho era o “conselheiro” dos dois. Para
complicar a situação, em um certo dia, Estela e Henrique estão se agarrando no
jardim e surge Botelho, que vê o casal mas, por sorte, não contou nada a
ninguém e orientou que tivessem mais cuidado. Outro fato estranho acontece:
quando o velho vai conversar com Henrique, começa a acariciá-lo e a elogiá-lo,
dando a entender que era um pederasta.
O livro narra a convivência entre os
moradores do cortiço, e no capítulo 4, começa a surgir a descrição de uma
personagem importante: Rita Baiana, uma mulher muito bonita e sensual, que
namorava Firmo, um capoeira. Ainda no mesmo capítulo, é narrada a mudança de
Jerônimo, sua esposa Piedade e sua filha Senhorinha, ambos portugueses, ao
cortiço de João Romão. A partir daí começam a surgir as brigas,
desentendimentos e a descrição de uma realidade um tanto quanto triste para
alguns dos moradores desse espaço.
Jerônimo, homem honesto, trabalhador e
dedicado à família, se apaixona pela brasileira Rita Baiana. Alguns
acontecimentos deixam a indicar essa paixão e, consequentemente, Piedade
entende que havia “perdido” seu esposo, o que a entristece e irrita muito.
Havia também no cortiço a Dona Isabel,
lavadeira, uma senhora respeitável, que tinha uma filha, a Pombinha, uma das
poucas moradoras do cortiço que sabe ler e escrever. No cortiço moravam também
Alexandre, soldado da polícia, junto com sua esposa Augusta, que era lavadeira,
e sua filha Juju, que tinha como madrinha a prostituta Leónie. Dona Isabel e
Pombinha se tornaram amigas de Leónie, mas um fato triste acontece: em uma
certa visita à casa da prostituta, ela acaba abusando da doce Pombinha. A
menina passou mal no dia seguinte, sentindo dores no útero e com febre, tendo
sonhos estranhos e, ao acordar percebeu que tinha menstruado. Pombinha era
noiva de João da Costa, mas sua mãe só permitia que se casasse a partir do
momento em que virasse “mulher”, apesar de já possuir 18 anos. A notícia sobre
a menstruação de Pombinha alegrou a todos, que muito queriam vê-la feliz.
Jerônimo, apaixonado por Rita, se envolve
com Firmo e os dois acabam brigando pela mulata. Depois de um certo tempo,
entre idas e vindas, Jerônimo, junto com dois amigos, acaba matando Firmo. Os
dois decidem então fugir para ficarem juntos e Jerônimo separa-se de Piedade,
deixando-a sozinha com Senhorinha. Ele prometeu continuar pagando a escola da
filha, mas se envolve em dívidas e nem isso ele pode fazer à menina. Passam a
viver uma vida turbulenta e Piedade começa a beber, vivendo
desestabilizadamente.
Com o passar do tempo, a convivência entre
João Romão e o vizinho Miranda melhora. João Romão aproveitou-se de toda força
física de Bertoleza para enriquecer e, no desfecho da história, algo
surpreendente acontece: aflito para se ver livre da escrava, e para poder se
casar com a filha de Miranda, o dono do cortiço começa a pensar em uma forma de
se livrar de sua “companheira”. Como dito no início, Bertoleza não era
verdadeiramente livre, junto com o velho Botelho, João Romão decide denunciá-la
aos seus “donos”, visto que ela tinha uma falsa carta de alforria, projetada
por João Romão. Quando estes, junto à polícia, vem buscá-la, como era de costume,
a escrava estava trabalhando e, antes que encostassem um dedo nela, enfiou a
faca em si mesma, pondo fim à história de O cortiço.
O cortiço é uma obra
naturalista. Nele, observamos aspectos desse período literário, como a
descrição detalhada dos personagens, uso de temas sociais polêmicos (adultérios, crimes, pederastia), como também o foco na análise dos comportamentos
humanos.
O autor da
obra, Aluísio Gonçalves Belo de Azevedo, nascido no Maranhão, em 1857, foi
desenhista, jornalista, romancista, dramaturgo e diplomata. Seus romances mais
famosos são O cortiço, O mulato e Casa de
pensão, chamados de naturalistas em razão de apresentarem uma descrição
minuciosa e realista dos diferentes tipos humanos e de suas relações com o meio
onde vivem. Como se pode ver em O cortiço,
a narração entra em detalhes íntimos da vida dos personagens.
Essa obra
denuncia a precariedade das moradias dos subúrbios do final do século 19, como
esse de João Romão, localizado no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Foi
escrita num período posterior à abolição da escravatura no Brasil, mas ainda
assim vemos uma negra servindo como escrava para um português. Percebemos então
que, mesmo com o “fim da escravidão” no Brasil, ainda podemos ver as marcas
desse sistema, como acontece no caso de Bertoleza.
A obra é
excelente para aqueles que gostam de ler sobre temas polêmicos, que refletem e
denunciam um momento histórico e também para os que gostam de romances mais
realistas e com menos idealização da perfeição.
- Sara Heloisa Silveira Moraes - Estudante, cursando o
3º ano A do Ensino Médio na Escola Estadual Professora Ilma de Lana Emerique
Caldeira
- Professora Priscila Carvalho
Excelente obra e muito bem resenhada!
ResponderExcluirParabéns Sarinha vc é um amor de pessoa e uma aluna exemplar! Um cheiro!
ResponderExcluirParabéns Sarinha vc é um amor de pessoa e uma aluna exemplar! Um cheiro!
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